quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

LXI (Do livro Cem Sonetos de Amor) Pablo Neruda

Trouxe o amor sua cauda de dores,
seu longo raio estático de espinhos,
e fechamos os olhos porque nada,
para que nenhuma ferida nos separe,

Não é culpa de teus olhos este pranto:
tuas mãos não cravaram esta espada:
não buscaram teus pés este caminho:
chegou a teu coração o mel sombrio.

Quando o amor como uma imensa onda
nos estrelou contra a pedra dura,
nos amassou com uma só farinha,

caiu a dor sobre outro doce rosto
e assim na luz da estação aberta
se consagrou a primavera ferida.

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